Podemos considerar que atualmente o hype da grande maioria das mulheres se tornou uma CEO da sua própria empresa. Guiadas pelo exemplo das norte-americanas e incentivadas pelo universo dos investidores de startups, as mulheres entenderam que o mercado de trabalho precisa da força de trabalho delas, e talvez, ser apenas uma influencer viajando o mundo e postando fotos no instagram tenham se tornado obsoletas.
Pensando em um mundo, há menos de 100 anos atrás, em que mulheres não tinham voz, não tinham voto, e muito menos o respeito em uma comunidade, certamente, nós, enquanto mulheres, avançamos mais uma vez.
Podemos dar essa conquista às revistas de moda que caíram em um mainstream ainda estritamente masculinizado, já que mulheres não tinham acesso a cultura, a conhecimento, e as poucas que lutavam por isso eram consideradas indignas de respeito e admiração no séc XIX. No início da Década de 1990, as mulheres eram retratadas em periódicos de moda, através de desenhos e algumas poucas fotografias sem cor, com objetivo de mostrar algum modelo icônico usado por alguma grande personalidade, e que poderia, de alguma forma, ser reproduzido por costureiras locais. Mais a frente as revistas de moda ganharam espaço, exigindo novas profissões como artistas, estilistas, modelos e fotógrafos. Se deu, aqui, o início do que chamamos hoje de um mercado de moda global.
Na década de 1940, com o sucesso do cinema, algumas jovens mulheres se tornaram capazes de ditar tendências em termos de comportamento e moda, seja por suas personagens ou por suas personalidades fotografadas fora das telas. Podemos chamar isso de o início das celebridades, sendo perseguidas por paparazzis, e tendo seus comportamentos sendo sinônimo de hype no mundo inteiro. Estas mulheres ficaram conhecidas como It-girls, muito além dos filmes ou das passarelas, eram reconhecidas, também por suas personalidades.
Nos anos 90, com o surgimento da internet e das redes sociais, os desfiles de moda haviam se tornado grande eventos e os movimentos de moda locais ferviam no mundo todo, o que despertou, em meninas de todas as parte do mundo o desejo por ser parte das maiores semanas de moda do mundo, sejam elas européias, sejam elas norte-americanas. Até aqui, os desfiles eram grandes espetáculos privados, e somente grandes nomes do cenário recebiam convites para se fazer presente. Aqui, experimentamos uma pirâmide hierárquica muito bem construída onde grandes criadores ditavam as tendências.
Porém, a revolução digital, e o acesso a moda por pessoas que não possuíam recursos para adquirir criações internacionais, gerou um movimento paralelo e digital que nasceu como Blogs de Moda. Neste cenário, meninas comuns davam suas dicas e opiniões sobre a moda a partir de seu próprio ponto de vista. As mais ousadas começaram a ir até os desfiles na tentativa de ocupar as cadeiras das personalidades que recusaram os convites, o que, para algumas marcas, se tornou um grande negócio já que, um desfile vazio poderia representar um fracasso.
Rapidamente a pirâmide da moda começou a se inverter, a partir do momento em que as novas personalidades comuns, captavam um público também comum, e começavam a influenciar a decisão de compra do consumidor final. Não demora muito para que as blogueiras se tornem convidadas oficiais dos maiores desfiles do mundo e, a partir deste momento, tratadas como grandes celebridades.
Não muito distante da Década de 90, as opiniões conceituais das revistas, antes inquestionáveis e ditatoriais, começa a ser contrariada pelas próprias leitoras que passaram a ditar o que estaria ou não nas publicações. Como um efeito bola de neve, as tendência também passam por um processo de democratização, especialmente com a chegada das mídias sociais especializadas, como o portal I Heart it e o LookBook.com e dos sites de streetstyle como o The Sartorialist.
Em meados de 2010 com a febre do Instagram, as celebridades, socialites se tornando blogueiras e passando a disputar diretamente os convites das primeiras filas dos desfiles com pessoas comuns, a massificação das influencers e o surgimento da categorização das influencers de forma local, regional, nacional ou global, a moda muda completamente e autenticidade se torna a palavra da vez. Não mais criadores ou veículos de comunicação ditando tendências, mas uma pirâmide contemporânea que se inverte quase que completamente.
Simultâneamente, a economia da moda cresce grandes marcas como Nike, GAP e Converse, bem como grandes magazines como H&M, Zara e Forever 21 também ganham espaço de forma global, criando uma economia globalizada e apoiando grandes influencers no mundo inteiro. Atualmente, as redes-sociais também são responsáveis por novos formatos de trabalho, proporcionando liberdade geográfica, intelectual e financeira aos seus usuários, sendo possível monetizar este formato de trabalho. Eis aqui uma grande mudança pela qual a grande indústria de moda, hoje, globalizada, não contava.
Não mais obcecadas apenas pelas maiores maisons francesas, ou pelas grandes marcas globais que uniformiza fashionistas no mundo inteiro, as redes sociais, sendo um espaço de livre expressão, não apenas visual, proporcionou novas manifestações estéticas e comportamentais, se tornando um novo canal oficial de leitura de micro-tendências.
Seria o fim das macrotendências? O que já podemos perceber até aqui, é a percepção da necessidade da forma de trabalho feminino em meio a uma indústria até então liderada por homens, mas construída para mulheres. Certamente, o mainstream tem sofrido uma descentralização, já que as redes-sociais, como um todo, nos proporcionam milhares de opção e exigem que nós aprendamos a tomar nossas próprias decisões, já que todas as opiniões se tornam valentes, e não há mais quem, oficialmente, classifique como certo X errado.
De encontro ao boom do empreendedorismo feminino que podemos perceber claramente se manifestando nas redessociais, certamente o novo hype se tornou uma CEO. De blogueiras que recebiam brindes nas portas de suas casas, a influencers capa das antigas revistas de moda, a superfaturação de profissionais pedintes esclareceu a necessidade de produzir para ganhar bem. Já podemos enxergar grandes nomes do empreendedorismo feminino sendo exaltados, bem como seus feitos e histórias.
Cria-se uma economia feminina, onde mulheres apoiam mulheres a saírem de relacionamentos abusivos, fundar suas empresas, terem suas próprias fontes de renda, seguindo o exemplo de suas ancestrais feministas que lutaram pelo nosso direito de voto, de estarmos formadas em grandes universidade bem como de assumirmos cargos de importância dentro de uma empresa. Cargos já não são suficientes, mulheres querem hoje, liderar suas próprias empresas.
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