Antes de explicar porque escolhi esse assunto pra falar sobre, precisamos entender o que é a cultura do cancelamento. Segundo a BBB:
"O movimento hoje conhecido como "cultura do cancelamento" começou, há alguns anos, como uma forma de chamar a atenção para causas como justiça social e preservação ambiental. Seria uma maneira de amplificar a voz de grupos oprimidos e forçar ações políticas de marcas ou figuras públicas.
Funciona assim: um usuário de mídias sociais, como Twitter e Facebook, presencia um ato que considera errado, registra em vídeo ou foto e posta em sua conta. O "cancelamento" é um ataque à reputação que ameaça o emprego e os meios de subsistência atuais e futuros do cancelado.
O fenômeno acontece também no Brasil e frequentemente tem como alvo famosos. Um exemplo recente de cancelamento foi o da blogueira Gabriela Pugliesi. Depois de postar imagens de uma festa que deu em sua casa, em abril, em meio a uma quarentena por conta da epidemia de coronavírus, uma multidão online passou a cobrar as marcas que a patrocinavam para que rescindissem os contratos de publicidade com ela. Pugliesi perdeu pelo menos cinco contratos e seu prejuízo teria superado os R$ 2 milhões."
O assunto veio a tona na internet essa semana por conta dos acontecimentos da primeira semana na casa do Big Brother Brasil. Por conta de alguns erros, dois participantes tem sido "cancelados" dentro da casa pelos demais. Então, muito tem se falado que o comportamento da casa reflete o comportamento do cancelamento que já acontece na rede.
A verdade é que eu já conhecia alguns dos participantes famosos, e estes marcaram, com seu trabalho, alguns momentos da minha vida. Foi assim que, despois de alguns longos anos sem saber o que se passava na casa mais vigiada do Brasil, o BBB21 me pegou. E já que estou envolvida, não só assisti os acontecimentos na casa como participei das reflexões.
Percebi que a tal cultura do cancelamento já era muito falada pelos adultos estudiosos quando eu ainda estava na escola, mas na época, antes das redes sociais, o cancelamento foi chamado de Bulling. Muitas crianças, jovens e adolescente sofreram na mão de pessoas que se julgavam superiores, mais importantes, e no direito de humilhar aos outros.
Aconteceu comigo, influenciada pelos filmes americanos, pelo sonho de ser a "garota mais popular" na escola, muitas vezes me senti inferiorizada por conta das condições financeiras da minha família ou por conta da minha aparência, e, na minha cabeça, dei a volta por cima, quando, na adolescência, passei a ser mais participativa e comunicativa, e me senti no direito de inferiorizar outras pessoas.
Não que eu fosse um monstro, foram alguns eventos isolados, e apesar de ser uma pessoa de bom coração, que na maioria dos tempos lutava pelas causas perdidas e buscava ser amiga de todos e tratar a todos com igualdade, como aprendi em casa. Mas, mesmo assim, eu tenho a certeza, e carrego a culpa, de algumas vezes ter sido a 'canceladora' da vez.
Até hoje, esses momentos me assombram, me sinto um lixo quando penso no que fui capaz de fazer ou dizer para as outras crianças. Eu, pessoalmente, passei por um longo processo de transformação e me tornei uma pessoa que considera este tipo de atitude inaceitável. Me tornei alguém que condena a desigualdade, seja ela qual for, e que apoia com todas as forças os processos de inclusão.
E é essa, a mensagem que fica pra mim, de toda essa confusão. A gente precisa mudar, como sociedade, a gente precisa abominar o cancelador e não o cancelado. A gente precisa aprender a conviver com as diferenças, aceitar as pessoas do jeito que elas são, a gente precisa amar ao próximo como a si mesmo, é serio.
Foram-se os anos, e ficaram, no meu coração, as lições. Eu não sei se causei danos à essas pessoas, mas eu causei danos serissimos a mim mesma, entre eles, o medo de ser a próxima cancelada e a eterna vergonha dessas pessoas e dos seus familiares.
Cancelar não compensa. Mudar, crescer, evoluir, aceitar, amar, são coisas que compensam quando o assunto é o nosso irmão.
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