Enquanto mulheres, experimentamos a vaidade como parte de quem somos, e de fato nos sentimos extremamente realizadas quando nos reconhecemos belas. Desde a antiguidade as mulheres desempenham um papel social de adornar-se, a fim de se tornarem atraentes para seus potenciais parceiros. As primeiras formas de adorno feminino foram feitas de elementos naturais, como conchas, ossos, pedras e penas. Em civilizações antigas, como a egípcia, romana e grega, as mulheres usavam joias elaboradas, como pulseiras, colares e brincos. Adornos muitas vezes indicavam a classe social, o status matrimonial e/ou religioso.
Durante a Idade Média, nobres e aristocratas desenvolviam para si joias super elaboradas, enquanto a classe trabalhadora possuía, apenas, acesso a acessórios muito simples. Ao longo da desconstrução desta divisão das classes sociais que separava nobres, aristocratas e classe trabalhadora, a mídia desempenhou um papel importantíssimo incentivando a democracia estética. A moda contemporânea é caracterizada pela diversidade. Mulheres têm acesso a uma ampla gama de estilos, desde minimalistas até extravagantes. As propostas estéticas contemporâneas muitas vezes refletem a individualidade e a expressão pessoal, com designers inovadores propondo novas formas de pensar o vestir.
Algumas mulheres permanecem aprisionadas nos pensamentos antiquados de que competir entre si, as levaria a uma vida de prosperidade, em busca de ascensão pessoal e profissional, desconsiderando aquilo que nossas mães e avós enfrentaram, nas últimas décadas, para que nós, mulheres, pudéssemos experimentar a dignidade de fazer escolhas com autonomia e liberdade.
Infelizmente, a rivalidade feminina ainda incentivada por algumas de nós, aprisiona muitas outras em cárceres emocionais, por meio de pensamentos altamente ultrapassados onde mulheres não podem ter voz, inteligência, capacidade ou direitos. Defendendo uma lógica obsoleta de que mulheres que possuem liberdade chegaram lá por merecimento, como se apenas algumas de nós merecesse uma vida com dignidade. Muitas destas mulheres ainda permanecem reféns de normas e expectativas culturais em relação ao seu papel, como padrões de beleza, sucesso profissional ou papel na família, defendendo os valores arcaicos da meritocracia.
Em sociedades historicamente patriarcais, as mulheres tiveram seu acesso limitado a recursos como educação, emprego e, inclusive, umas às outras, limitando a possibilidade de criarem uma rede de afeto que às pudesse acolher em momentos de extrema violência, seja ela psicológica, física ou emocional. E todas nós sabemos que muitas mulheres ainda permanecem em situações de extrema violência por conta deste tipo de pensamento, que apenas as beneficia. A competição entre elas por esses recursos surge como uma resposta natural, sendo, na verdade, de todas elas, o desejo por uma vida de autonomia, liberdade e independência.
Toda a pressão social que herdamos do comportamento conservador destas mulheres, de maneira estrutural, pode nos levar ao sentimento de inadequação e insegurança. Sentimentos, estes, que podem se manifestar como uma rivalidade sem sentido com outras mulheres. Os estereótipos de gênero, extremamente perpetuados pela sociedade, podem levar as mulheres a serem vistas como concorrentes naturais em vez de aliadas. O que também resulta em comportamentos assustadoramente competitivos ao invés de uma conduta contemporânea aceitável de colaboratividade.
Em alguns casos, a falta de solidariedade entre mulheres pode ser atribuída aos estes valores, já citados anteriormente, que enfatizam esta competição nonsense, e isso pode estar sendo reforçado por narrativas culturais.
É importante notar que a rivalidade entre mulheres não é universal e muitas de nós possuem relacionamentos saudáveis e solidários. Na atualidade, em diversos países no mundo, muitas redes se levantam para defender e retirar mulheres de situações inaceitáveis e desumanas. Além disso, as atitudes sociais têm mudado e há um movimento crescente em direção à promoção da solidariedade e do apoio mútuo entre as mulheres. É crucial desafiar estereótipos prejudiciais e promover uma cultura que incentive a cooperação e a empatia entre mulheres.
Vale ressaltar que nem todas as mulheres experimentam ou contribuem para a rivalidade feminina, e, particularmente, nós acreditamos que lutar contra esta lógica sem nexo de que apenas algumas de nós tem direito a uma vida com dignidade, enquanto muitas outras, precisam lidar com situaçōes de extremismo que as fazem sofrem diariamente, faz parte da nossa responsabilidade social enquanto mulheres que possuem acesso à informação, recursos e a uma lógica humana de coerência social.
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